• 13 de maio de 2025
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Temperatura extrema e mudança climática afetam África de forma mais árdua

Alterações do clima influem em cada aspecto socioeconômico de desenvolvimento do continente agravando condições de fome, insegurança e deslocamentos segundo Organização Meteorológica Mundial, OMM; estragos do ciclone Chido em Moçambique citados no estudo.


Esta é a década mais quente para a África desde que os registros foram iniciados. A temperatura da superfície do mar atingiu seu nível recorde no ano passado.


Cheias e secas destruíram subsistências e comunidades em várias partes do mundo. E fenômenos climáticos como El Niño tiveram um papel nesse resultado.


Essas são algumas das conclusões do relatório o Estado do Clima na África 2024, lançado nesta segunda-feira pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, em Addis Abeba e Genebra, simultaneamente.


Modelos de previsão do tempo
O relatório destaca os desafios para agricultura e o meio ambiente, alimentação, água e segurança energética, além de saúde e educação. A inteligência artificial, meios de comunicação móvel e modelos avançados para previsão do tempo estão aumentando o alcance de serviços meteorológicos através da África.


Segundo o estudo, o ano de 2024 foi o mais quente ou o segundo mais quente, dependendo dos dados utilizados. Os níveis de aquecimento da temperatura da superfície do mar foram mais intensos no Oceano Atlântico e no Mar Mediterrâneo.


A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, afirma que a situação na África demonstra realidades urgentes e crescentes da mudança climática em todo o continente.


Partilha de dados
A agência acredita que será preciso mais investimento em infraestrutura para escalar a transformação digital, que oferece grandes potenciais, com partilha de dados e serviços mais inclusivos.


Uma das parcerias da OMM com os países africanos é sobre a construção de um sistema de alertas precoces para todos. Para Celeste Saulo, o relatório deve levar à ação coletiva para lidar com os desafios complexos e efeitos de dominó do problema no continente.


Para a agência da ONU, é preciso um senso maior de urgência para melhorar os sistemas e fortalecer a resistência climática e adaptação. O apelo a governos, entidades de desenvolvimento e ao setor privado é de que aceleram os investimentos baseados no clima.


Ecossistemas marinhos danificados
Em 2024, a média da temperatura no continente africano foi de cerca de 0,86°C acima da média de longo prazo entre 1991-2020. Já o norte da África registrou os níveis mais altos de 1.28°C acima da média do mesmo período.


Esta é a subregião africana que está aquecendo num ritmo mais elevado. Quase todo o oceano ao redor da África foi afetado por ondas de calor variando de intensidades forte, severa a extrema no ano passado.


De janeiro a abril, quase 30 milhões de km² foram afetados desde o início do monitoramento em 1993. As altas temperaturas oceânicas também prejudicaram ecossistemas marinhos e intensificaram tempestades tropicais.


Seca, chuvas e 700 mil afetados
No caso do sul da África, as condições de seca especialmente no Malauí, na Zâmbia e no Zimbábue levaram as piores estiagens das últimas duas décadas. Com isso, plantações de cereal ficaram 16% abaixo da média de cinco anos. No caso de Zâmbia e Zimbábue, a redução ultrapassou 43%.


No leste da África, que registrou chuvas longas e pesadas, de março a maio, houve cheias no Quênia, na Tanzânia e no Burundi. Centenas de pessoas morreram e mais de 700 mil foram afetadas.


Mais de 4 milhões de pessoas foram afetadas por enchentes arrasadoras no oeste e no centro da África, que levaram a centenas de mortos ou feridos e centenas de milhares de deslocamentos.


Dentre os países mais afetados estão: Nigéria, Camarões, Chade, Níger e a República Centro-Africana.


O ano passado foi terceiro consecutivo com colheitas abaixo do nível esperado por causa de chuvas pesadas e temperaturas extremamente altas. A produção do Marrocos, por exemplo, caiu 42% abaixo da média do quinquênio após seis anos seguidos de seca.

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