• 15 de janeiro de 2024
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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ONU lança missão pioneira para investigar impacto de microplásticos na Antártida

Iniciativa liderada pela Agência Internacional de Energia Atômica, em parceria com a Argentina, utiliza tecnologia nuclear para identificar quantidade, origem e distribuição do poluente na região; plástico contribui para enfraquecimento mecânico da estrutura do gelo e acelera o derretimento.


A presença de microplásticos pode aprofundar o impacto devastador do derretimento do gelo polar na Antártida.


Por isso, a Agência Internacional de Energia Atômica, Aiea, em cooperação com a Argentina, lançou este fim de semana sua primeira expedição de pesquisa científica para investigar a presença deste tipo de poluente na região.


Lançamento da missão
O presidente da Argentina, Javier Milei, e o diretor-geral da Aiea, Rafael Mariano Grossi, juntaram-se à equipe científica da agência da ONU nas bases antárticas argentinas de Marambio e Esperanza para marcar o início da missão.


O ministro da Defesa, Luis Petri, o ministro do Interior, Guillermo Francos, e a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, também estavam presentes.


A equipe de pesquisa partirá por um mês para avaliar o impacto dos microplásticos, investigando sua ocorrência e distribuição na água do mar, lagos, sedimentos, areia e dejetos de animais do ecossistema antártico.


A missão faz parte da iniciativa Nutec da Aiea, que tem como meta combater a poluição plástica com tecnologias nucleares.


Tecnologia nuclear
Por meio de uma rede de laboratórios de monitoramento, técnicas nucleares e isotópicas estão sendo usadas para produzir dados sobre a distribuição de microplásticos marinhos.


Para a missão na Antártida, microscópios de última geração e técnicas de espectroscopia vibracional serão usados para contar o número de micropartículas de plástico e caracterizar o tipo de polímero para avaliar a potencial fonte de poluição.


Os microplásticos são partículas com menos de 5 mm de diâmetro e foram encontradas no gelo costeiro da Antártida pela primeira vez em 2009.


No entanto, não há quase nenhuma informação disponível sobre onde e em que quantidade os microplásticos chegam à Antártida e o quanto é absorvido pelo ecossistema.


Derretimento acelerado do gelo
Também existem poucos dados sobre os tipos de microplásticos que chegam a essa área intocada por meio de correntes oceânicas, deposição atmosférica e atuação de seres humanos no local.


A presença de microplásticos pode contribuir para acelerar a perda de gelo na Antártida, reduzindo a refletividade, alterando a rugosidade superficial e promovendo atividade microbiana.


O plástico também atua como isolante térmico e contribui para o enfraquecimento mecânico da estrutura do gelo.


Urgência por um tratado global
Em uma resolução de março de 2022, os Estados-membros das Nações Unidas se comprometeram a iniciar negociações para um novo tratado global sobre a proibição da poluição por plásticos, inclusive no ambiente marinho, com o objetivo de adoção formal até 2025.


A expansão das iniciativas da Aiea para monitorar a poluição marinha por microplásticos, inclusive em áreas polares, pretende fornecer evidências científicas para apoiar a tomada de decisões informadas durante as negociações e contribuir para a implementação efetiva do tratado, particularmente no ambiente marinho.


Um relatório de 2021 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, alertou que os produtos químicos presentes nos microplásticos “estão associados a graves impactos na saúde, especialmente nas mulheres”.


Os impactos da ingestão de microplásticos por meio de alimentos e da água ou da absorção pelo ar e pela pele podem incluir alterações na genética humana, no desenvolvimento do cérebro e na capacidade respiratória.

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