• 24 de janeiro de 2024
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Em Davos, Alexandre Silveira insiste em fósseis “para transição”

O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, elogiou nesta quinta-feira (18) os rumos do país na transição energética. “O Brasil, sob a liderança do presidente Lula, decidiu avançar efetivamente na transição energética que nós defendemos que seja justa, inclusiva e, se possível, como destaca o Papa Francisco, obrigatória”, disse. O chefe da Igreja Católica foi citado duas vezes pelo ministro. No entanto, diferentemente de Silveira, Francisco defende a eliminação rápida dos combustíveis fósseis.


Sentado ao lado da americana Vicki Hollub, presidente da Occidental Petroleum, Silveira participou do debate sobre avanços na transição energética, um dos temas destacados no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, que teve início na segunda-feira (15). Com menos de cinco minutos para falar, o ministro exaltou o potencial do Brasil para produzir energia hidrelétrica, solar, eólica e com biomassa. Citou o aumento de linhas de transmissão para levar energia elétrica a regiões isoladas da Amazônia dependentes de combustíveis fósseis e defendeu os créditos de carbono internacionais como uma fonte financeira para acelerar a transição energética.


O discurso foi parecido com o feito na terça-feira (16) durante a mesa “Transformação Sustentável do Brasil”. Nenhuma menção sobre a exploração de combustíveis fósseis, que ele costuma defender. Alguns minutos depois, porém, Silveira interrompeu o empresário australiano Andrew Forrest e defendeu a continuidade da exploração de petróleo. “Não posso deixar de concordar com a Vicki [Hollub] sob a necessidade de ser uma transição também equilibrada porque milhares de pessoas e países como o Brasil, a despeito de todas as suas potencialidades, tem potencialidade de petróleo e nós temos uma das grandes petroleiras do mundo”, disse.


“Eu não estou aqui para falar de ideologia. Sou cientista e é por isso que estou investindo no Brasil em energias renováveis e não em petróleo e gás”, respondeu Forrest. O empresário é um dos homens mais ricos da Austrália, dono de uma fortuna que vem da exploração de minério de ferro. Em novembro do ano passado, Forrest se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para confirmar um investimento de US$ 5 bilhões para um projeto para a produção de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário de Pecém, no Ceará.


A defesa por Silveira dos combustíveis fósseis e a negação de que a produção precisa acabar rapidamente são alguns dos fatores que têm ilustrado a contradição do governo Lula na área ambiental. O discurso desinformativo de que seria necessário investir em fósseis “para financiar a transição energética” aparece constantemente nas falas de autoridades do governo, incluindo Silveira. Também em Davos, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, hesitou em falar sobre a contradição brasileira, mas criticou os investimentos para a indústria fóssil.


“O mundo vive em uma contradição: a de ter que enfrentar a mudança climática e uma matriz energética que é fóssil predominantemente, em que se continua fazendo investimentos na ordem de US$ 7 trilhões para energia fóssil, e não consegue os US$ 100 bilhões para fazer a transformação ecológica do planeta”, disse Marina em um debate realizado na terça-feira no Fórum sobre a Amazônia.

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